domingo, 22 de agosto de 2010

Teatro da Vida

Papel na mesa, caneta na mão esquerda
O punho direito, calejado, segura meu rosto
Cotovelo mantém o sistema no lugar

Passo a transcrever a mim mesmo
Ponho meu retrato na janela
A quem passando quiser olhar

Não digo coisas belas, mas reais
Apresento espectativas e memórias
Dispenso enredos teatrais
Talvez ninguém se interesse em minhas histórias

No pão que o diabo amassou,
Passei manteiga e taquei queijo
Quando vi que o cão não gostou,
Sorri pra ele e mandei beijo

Construí castelos de pedra
E cavei buracos profundos
No rio da vida, fui contra a regra
Boiei mesmo pesado, sem nunca tocar o fundo

Fui taxado de louco, apaixonado
Sonhador, burro, delinqüente, safado
Vira-lata, fraco, viajante, bastardo
Mas cruzei um deserto e descansei sobre o fardo

Ainda miro uma longa caminhada
Milhas, trilhas, quadrilhas, qüinquilhas!
Trabalhei toda essa noite enluarada
Fortalecido, na memória, minha filha

Ela sim, só me dá gosto
Vale cada segundo da tortura
Deixo meu peito aberto, exposto
E regurgito qualquer traço de amargura

Se o queixo bate, mordo
Se a vista inunda, seco
Já não me sinto mais morto
Nem choro olhando pro teto

Sangrei vários litros, mas nenhum pingo a esmo
E do que passei, só Deus e eu de testemunhas
Sei que estas linhas, um ou dois vão ler mesmo
Mas gravei as marcas dos meus dentes e das minhas unhas.


(Gabriel Holanda)

Um comentário:

  1. O ser humano encontra uma dificuldade muito grande, a qual chega a beirar o impossível, que é arte de tentar expressar sua emoção. É muito difícil também fugir da redundância onde a falta de palavras, sejam faladas ou escritas, os desesperam. Essa mistura de angústia e aflição iniciam uma busca desenfrada por uma forma de externalização, que infelizmente conta com meios limitados. Uma pessoa se cala, outra fala, às vezes, e umas outras falam bastante. Sempre me indentifiquei contigo pois temos não só muitas coisas em comum, em relação a gostos, mas uma trajetória marcada por muita luta. Quantos pães amassados comemos, alguns deles juntos, quantas vezes boiamos pesados, mas não tocamos o fundo por termos uma perseverança enorme, que quando tudo parecia perdido, uma grande força interior, focada na vitória, trazia-nos à tona denovo. Você foi um dos caras que primeiro me acolheu como amigo e turma, quando estava no meu calvário pessoal, assim como o Renato, Daniel "Little bear" Nobrega, Monteiro e outros também daquela turma B-12.2 . Nesse mesmo ano passamos a ser do mesmo camarote e assim permanecemos até o fim. Então meu amigo, viu como eu provei que é redundante tentar expressar uma emoção? Sempre usei muitas palavras para tentar me expressar, sendo faladas ou escritas, mas com você, tenho tentado aprender, como descarregar uma tonelada de sentimentos em poucas palavras. Me encaixo nesse texto compartilhando essa sua trajetória, tanto na vida como na escrita quando você fala: "Sei que estas linhas, um ou dois vão ler mesmo; mas gravei as marcas dos meus dentes e das minhas unhas", porque também sinto isso. O que me acalma é saber que uma dessas duas pessoas é você. Provo minha redundância mais uma vez pois, teria motivos e histórias suficientes para ficar escrevendo a noite toda e ainda sim não conseguiria expressar o que estou sentindo. Porque no fundo, eu gostaria só de te agradecer... Por ser meu amigo, me inspirar e motivar. Obrigado OLD

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